quinta-feira, 5 de agosto de 2010

METADE...



Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que eu acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda, que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas
com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem
inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me coroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.



Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui, a outra metade eu não sei ...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos apronte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que
ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la
florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade, a canção. E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade também !

(OSWALDO MONTENEGRO)

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